Éric et Énide: Parte 3

Este post é continuação da parte um e parte dois; se não leu esses posts ainda, recomendo muito ler na ordem.

A tradução do Chrétien que tenho em mãos começa em este ponto em itálico, resumindo alguns acontecimentos como se fosse uma pausa entre dois atos de uma obra. Respeitando o texto, prossigo da mesma forma no ponto em que paramos na parte dois.

Acontecem então os preparativos de combate. Equipado com as armas pelas mãos da jovem, Eric a coloca imediatamente na garupa e dirige-se para a praça livre e ampla onde vê chegar o cavaleiro e a sua equipagem. Este convida a donzela a apoderar-se do pássaro que lá está sobre a percha. Voltando-se para sua amiga, Eric faz o mesmo. É o desafio, e em seguida acontece o primeiro grande combate singular dos romances da Távola Redonda. Seqüência de episódios selvagens. Vencido, o cavaleiro do anão corcunda implora graça. Recebe a imposição de ir ao castelo de Cardigan, colocar-se à mercê da rainha Guinevere e anunciar a próxima chegada do vencedor e sua companhia. Estes logo se põem a caminho.

Juntos, tanto cavalgam que ao meio-dia em ponto ante o castelo chegaram. Eram esperados em Cardigan. Para os ver de longe, os melhores barões tinham subido às janelas. Com a rainha Guinevere e o próprio rei estavam Kai e Parsifal, sire Gawain e Tor filho do rei Ares, Lucan o copeiro-mor e mais outros cavaleiros. Quando longe viram Eric, todos o reconheceram bem. Com a sua chegada a rainha e toda a corte sentem a mesma grande alegria, pois todos o amam igual.

Tão logo Eric chega diante do palácio, o rei desce a seu encontro e também a rainha. Todos lhe dizem "que Deus vos guarde!" e prezam e louvam a grande beleza de sua donzela. O próprio rei a segura para descer do palafrém. Faz-lhe a maior honra, levando-a pela mão até a grande sala de pedra do palácio. Atrás deles Eric e a rainha sobem da mesma forma, de mãos dadas. Diz ele:

- Senhora, trago-vos minha donzela e jovem amiga, de pobre vestimenta vestida. Assim ela me foi dada. Assim a trouxe até vós. É filha de um pobre vavassalo. Pobreza rebaixa muito homem bom. Seu pai é nobre e cortês, mas de bens quase nada tem. A mãe é senhora mui digna, pois possui como irmão um rico conde. Beleza e origem não serão motivos para que eu recuse esposar esta damizela. Pobreza tanto lhe puiu o camisão branco que nos cotovelos as duas mangas estão rotas. Contudo, se eu a quisesse fazer portar boas vestes, sua prima ofereceu-lhe roupa de arminho, seda, veiro ou petigris. Porém não consenti que outra ela vestisse enquanto assim não a vísseis. Minha gentil senhora, sabeis o que é preciso: suplico que penseis em vestir-lhe belas vestes.

Responde a rainha:

- Agistes bem. É justo que ela tenha das minhas roupas. Vou lhe dar uma das mais belas.

A rainha conduz a donzela ao seu quarto e ordena que lhe tragam uma túnica nova e o manto da outra roupa traspassada, feita na medida exata do seu corpo. A serva traz prontamente o manto e a túnica, que até nas mangas era forrada de branco arminho. No punho e no decote haviam utilizado (não é adivinhação) mais de meio marco de ouro batido e pedras de grande valor: azuis, verdes, violeta e sépia. A túnica era de grande riqueza. Não menos valia o manto de tecido fino, tendo ao pescoço duas zibelinas com presilhas que pesavam cada qual pelo menos uma onça. De um lado cintilava um jacinto e do outro um rubi mais luzente que uma candeia.

Em seguida, duas criadas levam a donzela a uma câmara privada. Desvestem-na do camisão. Ela coloca a túnica, envolve-se em sua vestimenta, cinge uma faixa com passamanes de ouro e recomenda que doem seu camisão, pelo amor de Deus. Depois veste o manto. A cor das peles parece ficar mais escura. A roupa assenta tão bem que a torna inda mais bela.

Com um fio de ouro, as duas aias ornam o cabelo louro; mas ele brilha mais do que o fio que o prende. Na cabeça colocam um aro de ouro lavrado de flores de diversas cores. Do melhor possível a adornam, com tanto cuidado que nada há para retocar. Ao pescoço passam-lhe duas fivelas de outro nigelado com engaste de topázio. Igual à bela e graciosa jovem creio que em terra nenhuma houvera, tanto a natureza bela obra fizera.

Ela saiu do aposento e veio ter com a rainha, que a elogia, pois ama a damizela e apraz-lhe que esteja bem ornada e bela. De mãos dadas vêm ambas diante do rei, que se ergue ao vê-las. Quando as duas entraram, tantos cavaleiros se puseram de pé no salão que eu não saberia nomear a décima parte, nem a vigésima, nem a trigésima. Mas vos poderei dizer os nomes dos melhores barões da corte, os da Távola Redonda, que são os mais valorosos do mundo.

(...) Quando a bela jovem forasteira vê todos esses cavaleiros que a olham com insistência, baixa a cabeça. Sente pejo (não é de estranhar), e sua face purpureja. Mas o pejo que a assalta inda mais bela a torna.

O rei a vê assim envergonhada e não quer se afastar. Toma-lhe suavemente a mão e a faz sentar à sua direita. À esquerda assenta a rainha, que diz ao rei:

- Sire, pelo que veio e creio, aquele que com as armas conquistou tão bela mulher em terra estranha deve ser bem-vindo à corte do rei. Agimos bem ao esperar por Eric. Agora podeis tomar o beijo à mais bela da corte. Creio que ninguém vos impedirá, pois ninguém ousará dizer: "Esta que aqui está não é a mais bonita das jovens, neste lugar e no mundo todo".

Responde o rei:

- Não é mentira. A esta jovem, se ninguém me contestar, darei as honras do Cervo Branco.

Depois, dirigindo-se aos cavaleiros:

- Senhores, que tendes a dizer? Afirmo que ela tem o direito às honras. Podeis dizer algo contra isso? Se alguém quiser opor resistência, fale agora o que pensa. Sou rei. Não devo mentir nem consentir em vilania, falsidade ou desmedida. (...). O costume de Pendragon meu pai, que era rei e imperador, devo guardar e manter, não importa o que me possa ocorrer. Ora, dizei-me de pronto e mui livremente todo o vosso pensar: esta jovem, embora não sendo da minha casa, não deve por bem e justiça receber o beijo do Cervo Branco?

Todos exclamam a uma só voz:

- Sire, por Deus e por sua cruz, podeis julgar com justeza que esta aqui é a mais bela; que possui mais beleza e brilho que o sol! Livremente podeis dar-lhe o beijo. Estamos todos acordes!

Então o rei volta-se para a jovem e a abraça, dizendo:

- Doce amiga, dou-vos minha amizade sem má intenção, vilania ou maldade. De todo coração vos amarei.

Assim, seguindo o costume, o rei Artur restaurou o privilégio que o Cervo Branco tinha em sua corte.

Chrétien passa então a relatar como Eric pede ao rei Artur o favor de ter suas núpcias celebradas na corte. Prontamente o rei chama os vassalos mais ilustres: Bilis, rei dos antípodas, senhor dos anões; Maheolas, senhor da ilha de Vidro; Guíngomar, senhor da ilha de Avalon e amigo de Morgana; Aguiflez, rei da Escócia; Garraz, rei de Cork, e David de Tintagel, e o senhor da ilha negra...

Ao receber sua mulher em casamento, Eric teve de a chamar pelo verdadeiro nome. (Nenhuma mulher será legitimamente esposada se não for chamada pelo nome certo.) Ninguém ainda o conhecia. Nesse momento, ficaram sabendo: Enide era seu nome de batismo. O arcebispo de Canterbury, que viera à corte, abençoa-a segundo o costume.
Quando toda a corte estava reunida, a ela vieram todos os menestréis da região hábeis em algum divertimento. Grande alegria reinava no salão. (...) Nada que possa rejubilar e alegrar é omitido nesse dia de núpcias. Soam tímbalos, tambores, cornamusas, pífaros, flautins e trompas e charamelas. Não há porta nem portinhola fechada.
O rei Artur não foi mesquinho: ordenou a seus padeiros, valetes e copeiros que dessem com grande plenitude, a cada qual segundo sua vontade, pão, vinho e carne de caça. Grande foi o regozijo no palácio; mas de muitos detalhes vos poupo, para narrar o júbilo e o prazer que houve no quarto e no leito. Para essa primeira noite juntos, Enide não foi raptada nem Brangiene posta no seu lugar. A rainha interpôs-se para a adornar e deitar, pois os esposos ardiam por estar juntos.

Cervo acossado que de sede ofega não deseja tanto a fonte, nem gavião faminto retorna ao reclamo de tão bom grado quanto os amantes desejam se conhecer nus. Naquela noite ambos resgataram o tempo de tão longa espera! Quando todos deixaram o quarto, eles concedem aos corpos seus direitos. Os olhos saciam-se de olhar, esses olhos que descortinam a via do amor, enviando ao coração a sua mensagem. E agrada-lhes tudo que contemplam. Após a mensagem dos olhos vêm a doçura - que vale bem mais - dos beijos que atraem o amor. Dessa doçura ambos experimentam e dessedentam os corações, tanto que com grande custo a interrrompem. O beijo é seu primeiro jogo; mas o amor que os prende torna a donzela mais ousada. Logo ela mais nada teme. Tudo sofreu, por mais que lhe custasse. E antes de levantar do leito perdeu o nome de donzela. De manhã, havia dama nova.

Que liiiiiiiiindooo!!!! Quero mais!!!!!

A história do Cervo Branco termina por aqui, mas Eric e Enide tem um longo caminho pela frente. Quem sabe, daqui a alguns posts não conte o resto da história deles?
Acho muito poética a última seqüência de parágrafos que copiei do livro. Nela podemos adivinhar, sentir o fundo do texto original do Chrétien de Troyes, que era em francês, e em formato de verso. Na tradução perdemos muito disso, mas o texto foi redigido com tanto talento que mesmo após tantas transformações consegue emocionar e transmitir a força da mensagem. O amor é um gesto universal e atemporal, que revigora sua mensagem cada vez que duas pessoas se dizem "te amo". O sentimento entre Eric e Enide era esse: um vínculo de amor, que explodia na paixão desenfreada que os versos contam.

Desejo a todos meus leitores um ótimo Natal, uma deliciosa véspera rodeado de amigos, família e por que não, muitos presentes!

Até a semana que vêm!

Érec et Énide: Parte 2

Nota: Este post vem como continuação da Introdução ao conto de Eric e Enide (Parte 1).

O Cervo Branco

No dia da Páscoa, no novo tempo, o rei Artur reuniu a corte em seu castelo de Cardigan. (...) Antes de despedir a assembléia, o rei anunciou que queria caçar o Cervo Branco, para reviver o costume. Isto não agradou a sire Gawain. Assim que ouviu as palavras do rei, disse:

- Sire, de tal caça ninguém vos agradecerá nem dará graça. Sabemos todos que quem mata o Cervo Branco tem o direito de dar um beijo na mais bela jovem da vossa corte. Respeitar esse uso pode dar azo a grande confusão, pois há bem aqui quinhentas damizelas de alta linhagem, todas filhas de reis, belas e recatadas. Cada uma tem por amigo um cavaleiro. Ele pretenderá, com ou sem razão, que sua amiga é a mais bela e a mais gentil.

- Bem o sei - respondeu o rei. - Mas nada do que disse mudarei. Palavra de rei não deve ser contestada. Amanhã cedo partiremos todos caçar o Cervo Branco na floresta aventurosa. Essa caça será mui maravilhosa.

No dia seguinte, logo ao alvorecer, o rei levanta. Veste uma cota curta para ir à floresta. Manda acordarem os cavaleiros, aprestarem os cavalos de caça. Tomam das armas e das flechas. Afastam-se rumo à floresta.

Atrás da tropa de cavaleiros vinha a rainha, em companhia de uma dama de honra que montava um palafrém branco. Seguia-as um cavaleiro chamado Eric. Era da Távola Redonda, e tinha grande renome na corte. (...)

- Senhora - diz ele -, se vos apraz cavalgarei ao vosso lado neste caminho. Vim apenas para estar junto de vós.

A rainha agradeceu:

- Caro amigo, sabei que aprecio muito vossa companhia. Melhor não posso ter.

Então eles cavalgam a bom passo e na floresta entram direto. Os que estavam na frente já haviam levantado o cervo. (...) Correndo à frente de todos eles, o rei presidia a caça, montado em um cavalo espanhol.

No bosque, a rainha Guinevere escutava os cachorros, tendo ao lado sua aia e o cavaleiro Eric. Os que haviam levantado o cervo logo ficaram tão afastados que nada mais se ouvia, nem trompa nem cão nem relincho.

(...) Viram então aproximar-se um cavaleiro armado, escudo ao peito, lança em punho. À sua direita cavalgava uma jovem de belo aspecto e diante deles, em um grande rocim, vinha um anão trazendo na mão um chicote com nós. A rainha, que os avistara de longe, estava curiosa de saber quem eram o cavaleiro e a jovem. Pede à aia:

- Damizela, ide dizer àquele cavaleiro que venha até mim e traga a jovem.

A aia vai diretamente até eles, mas o anão grita-lhe:

- Damizela, o que procurais aqui? Não tendes por que ir adiante!

- Anão - diz ela -,deixai-me passar! Quero falar a esse cavaleiro! É a rainha que me envia.

Mas o anão se atravessa no caminho. E grita novamente:

- Para trás! Para trás! Não tendes o que fazer aqui! Não tendes o que dizer a tão grande cavaleiro!

A aia sente grande desprezo por um ser tão pequeno que ousa lhe falar assim. Avança, tencionando passar à força. Mas o anão ergue o chicote para lhe bater no rosto. Ela se protege com o braço. O anão lhe açoita a mão nua; açoita também a outra mão, que fica toda vermelha. Quando a aia vê que não há recurso, recua e vai embora. Com o rosto banhado em lágrimas, volta para a rainha. Esta diz então:

- Eric, caro amigo, estou agastada por esse anão ter ferido a minha aia. O cavaleiro é um mal homem permitindo que tal canalha batesse em tão bela criatura. Eric, ide até o cavaleiro e dizei-lhe que venha prontamente. Quero conhecê-lo, e também à sua amiga.

Eric pica de esporas e galopa em linha reta. Ao vê-lo chegar, o anão corre à sua frente.

- Para trás, vassalo! Que vindes fazer aqui? Afastai-vos, eu ordeno!

Mas Eric responde:

- Antes foge tu, anão horroroso! Deixai-me passar!

(...)

Eric empurra o anão que, furioso, chicoteia-o tão forte que as correias marcam-lhe o pescoço e o rosto. Eric bem sabe que nada ganharia em matar o anão, pois vê adiante o cavaleiro em armas, cheio de maldade e arrogância, que o ameaça:

- Se bateres em meu anão, te mato!

Loucura não é coragem, e Eric afasta-se, agindo com muita sensatez.
- Senhora - diz à rainha -, eis que sofri ultraje inda maior! Aquele anão horrível golpeou-me tão forte que me tirou a pele do rosto. Não o ousei tocar nem ferir. Ninguém deve censurar-me, pois estava sem armas. Aliás, o cavaleiro senhor do anão não teria permitido e seguramente me mataria. Mas quero jurar-vos que, tão logo possa, vingarei minha desonra ou a tornarei ainda maior. No momento as minhas armas estão longe demais. Não contava precisar delas e deixei-as em Cardigan quando partimos esta manhã. Se ora as fosse buscar, jamais conseguiria alcançar aquele cavaleiro, pois ele se afasta a bom galope. Mas vale que o siga de perto ou de longe, até que me emprestem ou aluguem armas que me convenham. Então o cavaleiro me encontrará aparelhado para o combate. Senhora, sabei que, sem falta, nos bateremos tão duramente que um de nós terá de ser vencedor. Espero estar de volta dentro de três dias, o mais tardar. Então me revereis no castelo, não sei se contente ou dolente. Não posso tardar mais. Preciso seguir o cavaleiro. Vou-me, e a Deus vos recomendo.

A rainha autoriza-o a partir e recomenda da mesma forma, creio que mais de quinhentas vezes, para que do mal Deus o proteja.

Sir Wally de Moema resume a história neste ponto, contando que todos menos Eric voltam para Cardigan. Com o cervo abatido, a discussão se inflama e todos discutem (a toa) quem é a mais bela. A rainha lembra a todos que Eric não voltou da caçada, e foi trás o cavaleiro para recuperar sua honra perdida. Por este motivo, o beijo do costume fica adiado por três dias ou até a volta de Eric, o que acontecer primeiro. Continua agora o texto de Chrétien de Troyes.

Durante esse tempo, Eric ia seguindo em todos os caminhos o cavaleiro armado e o anão que o havia chicoteado. Chegaram diante de um burgo muito bem sitiado, sólido e belo. Entraram diretamente pela porta.
(...) Assim que avistam muito ao longe o cavaleiro que conheciam - mais o anão e a donzela - toda a gente vai ao seu encontro. Saúdam-nos e felicitam-nos, mas não fazem o menor caso de Eric, que não conhecem, ao que parece. Este segue passo a passo o cavaleiro pelo burgo, até que o vê albergar e fica mui satisfeito com isso.
Prosseguindo um pouco no caminho, vê sentado em um degrau um vavassalo de certa idade, dono de bem pobre morada. (...) Eric considerou que esse bom homem o poderia sem dúvida albergar. Passou a porta, entrou na casa. O vavassalo correu atrás dele; e antes que Eric dissesse uma palavra, saudou-o:

- Gentil sire - disse ele -, sede bem-vindo se em minha casa vos dignais albergar! Eis a casa que vos espera.
- Agradeço-vos - respondeu Eric. Necessito de uma casa por esta noite.

Eric desce do cavalo. O próprio sire o toma e puxa pelas rédeas. Ele faz as honras a seu hóspede. Chama a mulher e a filha., que trabalhavam em uma sala de costura, não sei em qual trabalho de agulha.
A dama saiu, acompanhada da filha que vestia uma fina camisa de abas, branca e plissada, por cima do camisão branco. Não usava outra roupa, mas o camisão estava tão puído que tinha furos nos lados. Pobre era a roupa por fora, mas belo era o corpo por baixo.
Ela saíra da sala de costura. Ao ver o cavaleiro, manteve-se um pouco atrás, e porque o via pela primeira vez teve pejo e enrubesceu. Eric, por seu lado, abismou-se ao ver tão perfeita beleza.
O vavassalo disse à filha:
- Bela e meiga filha, tomai este cavalo e levai-o ao estábulo com os meus.
(...) Depois volta ao pai, que lhe diz:
- Minha filha querida, tomai pela mão este senhor e fazei-lhe grande honra.
A filha obedece de bom grado. Toma o senhor pela mão e o conduz para lhe fazer as honras. A dama fora na frente para bem adornar a casa.
(...) Depois que cearam a gosto e deixaram a mesa, Eric fez uma pergunta ao seu anfitrião o dono da casa:
- Dizei-me, gentil anfitrião, por que vossa filha traja roupa tão pobre e vilã, ela que é tão perfeitamente bela?
- Gentil amigo - disse o vavassalo -, pobreza faz mal a muitos e estou entre eles! Dói-me ver a minha filha tão pobremente trajada. Não o posso remediar. Tanto estive sempre em guerra que perdi toda a minha terra. Tive de a vender ou empenhar. Entretanto, a minha filha estaria bem vestida se eu tivesse sofrido que ela aceitasse o que lhe queriam dar. O senhor desta terra a teria belamente adornado e cumulado de todos os bens possíveis, pois o dito senhor é conde. Não há nesta região barão dos mais ricos e mais poderosos que a não tivesse de bom grado tomado por esposa, com meu consentimento. Mas espero inda melhor partido. Deus lhe reserva maior honra que lhe traz a aventura: rei ou conde aqui virá que a seu país a levará. Haverá sob o ceú um só deles que se envergonhe da minha filha, que não tem igual no mundo? Ela é muito bela, mas seu recato sobrepuja ainda a beleza. Deus não fez criatura com mais senso nem de coração mais franco. Quando a tenho junto a mim, o mundo não vale um caracol! Ela é meu prazer, meu lazer, meu solaz e meu conforto e minha fortuna e meu tesouro. Nada conheço que seja tão belo como seu corpo.
Após ouvir seu anfitrião, Eric perguntou-lhe de onde era toda aquela cavalaria que tão numerosa viera ao burgo que não havia rua tão pequena nem casa tão pobre que não estivessem cheias de cavaleiros e damas e escudeiros.
- Gentil amigo, são os barões desta terra e das redondezas que vieram, jovens e velhos, para a festa que acontecerá amanhã. Haverá grande algazarra quando estiverem todos reunidos e quando, diante dessa multidão, um belo gavião de cinco mudas, talvez seis, o melhor que conseguirem, for colocado lá em cima, sobre uma vara de prata. Quem o quiser possuir deverá ter amiga bela e recatada e irreprochável. Se houver um cavaleiro bastante audaz que pretenda para sua amiga o renome e o prêmio reservados à mais bela, diante de todos ele a fará pegar o gavião na vara, caso nenhum outro se oponha. Permaneceu aqui esse antigo costume, e é por isso que vêm tantas pessoas.
Após essa fala, Eric assim pede ao vavassalo:
- Gentil anfitrião, se não vos aborrece e se o sabeis, dizei-me: quem é esse cavaleiro com armas azul e ouro que ora passou por aqui? Junto dele cavalgava uma donzela encantadora e adiante um anão corcunda.
Responde o anfitrião:
- É quem terá o gavião, pois nenhum cavaleiro ousará opor-se. Não, não haverá rotos nem rasgados. Ele o conseguiu dois anos seguidos, sem ter encontrado desafiante. Se desta vez obtiver o pássaro, o terá ganho para sempre. Dele será o pássaro, doravante todo ano, sem contenda nem peleja.
Diz Eric vivamente:
- Esse cavaleiro, não gosto dele! Sabei que se eu tivesse armas lhe disputaria o gavião! Gentil anfitrião, rogo que me ajudeis a aparelhar-me de armas, velhas ou novas, feias ou belas, pouco importa.
O anfitrião responde:
- Tenho boas e belas armas que de bom grado vos emprestarei. Lá dentro está a loriga de malha tripla que foi escolhida entre quinhentas, e as perneiras brilhantes e leves. O elmo está polido, luzente, e o escudo tinindo de tão novo. Cavalo, espada e lança vos emprestarei também, podeis ter certeza!
- Agradeço-vos, caro anfitrião, mas não desejo melhor espada além da que trouxe, nem outro cavalo além do meu. Dele me valerei bem. Se emprestardes o restante, será bondade mui grande. Mas quero pedir ainda uma cousa, pela qual vos serei reconhecido, se Deus me der de retornar com a honra da batalha.
- Pedi com toda segurança o que vos apraz. Nada do que tenho vos faltará.
Então Eric diz que quer reclamar o gavião para a filha do seu anfitrião, pois realmente não haverá na assembléia jovem bela com um centésimo da sua beleza. Se a levar consigo terá razão certa e segura de pretender e mostrar que com o gavião deve ficar. E acrescenta:
- Senhor, não sabeis qual hóspede haveis albergado, sua condição ou classe. Sou filho de um rei rico e poderoso. Meu pai é o rei Lac, Os bretões me chamam Eric. Pertenço à corte do rei Artur. Mais de três anos permaneci junto dele. Não sei se até esta terra chegou o renome do meu pai ou o meu. Mas prometo que, se me quiserdes aprestar com vossas armas e confiar vossa filha, amanhã conquisto o gavião! Então, se Deus me der a vitória, levarei vossa filha para meu país. Farei com que ela porte coroa. Será rainha de dez cidades.
- Ah, caro sire, é mesmo verdade? Sois Eric, o filho de Lac?
- Sou sim.
O vavassalo sente grande júbilo:
- Ouvimos falar de vós nesta região. Muito vos amo. Sois bravo e audaz. Jamais vos desacolherei. Apresento minha querida filha, inteira a vossas ordens.
Pegou a filha pelo pulso.
-Tomai - diz ele -, ela é vossa!

Curiosos? Amanhã tem mais...

Érec et Énide: Parte 1

Mais uma, ou a primeira de muitas?


Chrétien de Troyes disse que os séculos conservariam a lembrança de Érec et Énide "enquanto perdurasse a Cristandade". O valor desta obra reside em compor o primeiro romance do ciclo arturiano (bretão), literatura que marcaria presença na Europa durante vários séculos. Estes romances foram traduzidos para todas as línguas meridionais, germânicas, escandinavas... até no Oriente podemos encontrar traduções destes textos.
Dentro da literatura francesa, esta é a primeira obra de fato reivindicada por Chrétien como de sua autoria. Isto acontece de um jeito interessante no texto: Ele se vangloria como autor, se definindo como "um erudito", menosprezando os jograis que vivem "do penoso oficio de contar histórias". Com isso, ele não está se gabando, apenas mantendo uma tradição da antigüidade e pagando aos jograis com a mesma moeda, que debocham dos escritores incapazes de atrair a atenção de um auditório.
Da mesma forma que acontece com Lancelot, Yvain e Cliges, este romance foi inspirando em um conto galês, pegando carona em lendas da Bretânia e Armórica, e pelo lado celta, de Câmbria e Cornualha.
O conto galês que falei acima começa assim:

Artur tinha por costume de reunir sua corte em Carlion-sobre-o-Osk. Ali a reuniu sete vezes na Páscoa e cinco vezes no Natal, e mesmo às vezes no Pentecostes, pois seu reino Carlion era a cidade mais acessível por terra e por mar...

Já o conto francês do Chrétien:

No dia da Páscoa, no tempo novo, o rei Artur reuniu a corte no seu castelo de Cardigan. Homem jamais vira corte tão rica...

A semelhança é gritante, mas para alguns pesquisadores, na verdade ambos os contos são contemporâneos, e tem por fonte um outro conto mais antigo, perdido no tempo.
A diferença substancial entre ambas as histórias é no lado cavaleiresco, romántico. O conto de Chrétien usa e abusa do lado romántico para explicar e dar motivos aos fatos, enquanto o conto galês e mais... como a vida é , por assim dizer.
Um bom exemplo disso dentro do conto é a caçada ao cervo branco, promovido pelo rei Artur entre seus cavaleiros, na floresta próxima ao castelo. No conto galês, o prêmio é "a cabeça ensangüentada do animal", enquanto no romance francês, o cavaleiro vencedor da caçada teria o direito de indicar qual a jovem mais justa, que ganharia um beijo do rei (tradição que começou com Pendragon, pai de Artur). Logicamente, todos os cavaleiros desejam honrar suas damas, portanto se dedicam na caçada para ganhar este destaque para suas respectivas amadas. Quem ganha o beijo é Enide, a pedido de Erec.
A história deles é cheia de romance, e de confusões. Em vários episódios as intrigas e mal-entendidos ocasionam desgosto entre os amantes, mas finalmente após penar bastante eles se reencontram, se descobrem novamente.
É uma historia demorada de contar, e por isso vou estendê-la por mais uns posts. Conforme o tempo que tiver, vou publicando aos poucos, para quem não conhece a história e gostaria de ouvi-la.

Então, algum dos meus leitores já ouviu o conto de Erec e Enide? Comentem!

Happy Times

Arthur pede a mão de Guinevere


No fim do ano, o casamento chegou. O grande salão reuniu cavaleiros, damas e donzelas de nobre coração, que mais tarde desejariam a sorte da noiva achando seu par ou conquistando a sorte da velha tradição: o que passou pelas mãos da noiva é recolhido pela donzela de maior sorte, ganhando assim a benção para que sua união não se faça esperar até o inverno.


As carruagens se juntaram do lado de fora, até se perderem de vista. Alguns convidados vieram de terras distantes, para poder compartilhar a cerimônia com o mais novo casal.
A alegria reinava no ar. Os convidados chegaram até o grande salão, onde o banquete aguardava. Os deuses sem dúvida abençoaram esta união, pois os ventos anunciavam bons agouros.

Casamento de Arthur e Guinevere

Poderia ser uma história arturiana, como o casamento do rei Ban e Helen, de Uther e Igraine ou mesmo de Arthur e Guinevere, mas esta pequena introdução é para homenagear a meus amigos de blog, fãs do Cornwell e amantes de gatos que uniram suas vidas no santo sacramento do matrimônio.

Desejo a eles através deste post, a maior das felicidades: Renata ap Jorge et Marli, Gabriel ap Claudio et Soraya, que vossa união seja abençoada!

PS: Marion está bem, mas ainda preciso dos 140 minutos... até a semana que vem!

Procuram-se 140 minutos

Então, para quem leu os comentários dos posts anteriores, Marion anda ruimzinha da saúde. Logicamente, isso tem mudado as minhas prioridades, e por isso o pseudo-abandono ao blog. Comecei a assistir Excalibur, filme que acho sensacional pela honestidade na história. Passa por todos os estágios da lenda, desde o começo com o nascimento de Arthur como filho de Uther e Igraine, graças às artimanhas do Merlin. O filme não tem grandes pretensões, e acho que isso faz dele tão interessante. Entre as cenas do começo, temos um ótimo exemplo de um castelo sitiado, com direito a catapultas, óleo quente e o melhor das engenharia bélica medieval. Só que preciso de 140 minutos para terminar de assistí-lo. Prometo voltar ao assunto, assim que ver o filme como corresponde :-)
Então, só para passar um pouco menos batido no quesito blog, vai uma pequena homenagem aos doentinhos, gripadinhos e espirrantes de plantão.
A medicina medieval devia ser medonha. Encontrei pouca informação "blogável" como referências à horóscopo, plantas medicinais e etc., mas em compensação algumas imagens imperdíveis caíram na minha mão. E como meu esporte tem sido descolar legendas incomuns, vão os comentários. Falando em comentários, obrigado mais uma vez pelo apoio incondicional!


- Chefe, chegou esse goró.. vai aé?
- mas é bão pra tosse, uai?
- ô.. esprimenta...




- Diga "Ä"
- hein? AGGGHHH...
- tua garganta tá ruim, viu fio?


Mais balela ainda nesta semana. Me desejem 140 minutos. Até!

Quick Post

Videoteca

Oi gente, comentário rápido hoje. Estou na busca do santo assunto para postar, e por isso vou assistir uns filminhos do arquivo pessoal, aproveitando o frio e o estoque de pipoca.

Enquanto isso, leiam, vejam filmes, curtam o fim de semana; o post deve sair hoje a noite ou no máximo amanhã.

Tchüss...

Sitiados!!!

Fechou o tempo

Pode parecer estranho, mas acho que as batalhas perderam o romantismo com o surgimento da pólvora em forma de armas de fogo, por assim dizer. Tem até um ditado que diz que "com a invenção da pólvora se acabaram os valentes". Bom, eu acho que as batalhas de fato mudaram por completo, como também as estratégias.

Hoje quero falar da minha visão dos grandes sítios, das batalhas onde um exército se esforçava por invadir uma fortaleza, e onde os soldados guarnecidos nela se esforçavam por defendê-la.

Por fim a noite chegou. Uma hora atrás, a chuva atrasou o trabalho dos engenheiros, que para variar nunca parecem satisfeitos. As vezes, até parece que fosse de propósito.

- Mais para a direita!
- Não está alinhado!
- Não, Não, Não! Seus imbecis! Estão fazendo tudo errado!

Não percebem que apenas estamos seguindo suas instruções. Podíamos simplesmente largar eles sozinhos, mas são um mal necessário, ou não teríamos essas engenhocas.
A principio, achava que eles apenas eram covardes, que era
desonroso lutar sem lutar, mas com o tempo e a idade compreendi que o avanço deles é que faz todo o cerco possível. São eles que arrebentam as muralhas, que incendeiam as ameias, que ameaçam as torres e protegem a gente enquanto chegamos perto do fosso. E são eles que fazem as escadas e os arietes, que no fim das contas nos colocam dentro da fortaleza.

Passamos a tarde inteira erguendo, cortando e amarrando os troncos para dar forma as máquinas de sitio. Parecem monstros que saíram da floresta, com sede de vingança, apontando com raiva para os muros. Ao longe, mal podemos ver a fortaleza se preparando para nos dar as "bem-vindas".

Um cheiro terrível é trazido pelo vento, vindo do fosso. Os deuses não estão do nosso lado, disse um soldado, já que o vento está contra nós. Precisamos carregar mais o contrapeso ou diminuir a munição, o que nunca é bom. E ainda a cidade se livra do cheiro, que vem até aqui, querendo nos expulsar, como bons invasores que somos.

Alguns tocam nervosamente o cabo de suas espadas, rezando silenciosamente. Outros, sentados em roda, ficam em silêncio olhando as chamas crepitando nas fogueiras. Quem já passou por várias guerras, sabe bem como tudo pode virar do avesso a qualquer minuto.

- "Trebuchet"; disse o garoto ao meu lado, apontando ao castelo.
- "Isso é tua mãe." Respondi, sem saber o que ele apontava com esse brilho nos olhos.
- "É francês, senhor. Estou falando daquela torre de madeira, dentro das amuradas".

E o garoto estava certo. Estavam nos esperando. Enquanto nos passamos a tarde inteira preparando as catapultas, o inimigo ergueu seus trebuchets de defesa dentro do castelo. Eram máquinas terríveis, de um alcance muito superior ao que podíamos sonhar com nossas catapultas. Porém, temos a vantagem do movimento, enquanto o trebuchet é fixo. Se fizermos tudo certo, poderemos atingir suas defesas antes de que causem qualquer estrago nas nossas fileiras.

A hora estava chegando. As tropas formando, seguindo as ordens dos grandes senhores. A cavalaria aguardava pacientemente, tranqüilizando os animais mais novos, aqueles que ainda não conheciam o calor da batalha.

Começamos a marchar, para nos coloca
r em posição. Os engenheiros armam suas catapultas com as cargas de 15 quilos, e esticam as cordas ao máximo para medir o alcance.
A madeira e as cordas
gemem. As pessoas se afastam, e o engenheiro manda retirar a trava. O braço sobe violentamente, e lança a rocha pelos ares.
A catapulta inteira treme pelo impacto, e sai do lugar quase três passos. A rocha se projeta alto demais, e não chega nem perto das muralhas.
Mais um ajuste, a trava do braço é posicionada. A tensão é ajustada. E o vento mudou.

A catapulta sacudiu com força, e lançou mais uma rocha. Desceu assobiando, alguns passos após o muro. Nessa hora, soubemos que podíamos vencer.

Nota: Marion sempre me ajuda revisando os textos, buscando coisinhas que errei como bom gringo. Ela disse "vem cá, não vai colocar de que livro tirou isso?". Então, não saiu de livro nenhum. O texto é meu, e é o que gostaria de escrever no Nanowrimo, o dia que decidir participar. Indo mais a fundo, já disse uma vez que pelo jeito vou acabar escrevendo meu próprio livro arturiano. Quem sabe quando fizer 40 anos. Quem gostou, comente!


Trebuchet

O trebuchet é provavelmente o tipo mais antigo de catapulta. Inspirado nas cisternas (usadas para facilitar a coleta de agua em poços e lagos), o trebuchet usa um sistema de contrapesos para lançar objetos à distancia; sua munição mais comum eram rochas, mas não era estranho usar carcaças como munição para desmoralizar os invasores. No exemplo ao lado, é o corpo de um cavalo morto que serve de munição. Nada agradável.




Catapulta

No lugar de contrapesos, a catapulta usa a tensão de cordas para gerar a força que faz o braço subir. De construção mais compacta, a catapulta podia ser carregada, desmontada, transportada em barcos, montada novamente em terra firme e levada por animais de carga como uma carroça. De alcance menor ao dos trebuchets, sua vantagem era a mobilidade e velocidade de construção. Geralmente formavam o grosso da artilharia de sitio, arremessando cargas semelhantes aos trebuchets, e muitas vezes cargas incendiárias.

Ariete

Quase todos os filmes épicos tem um exemplo de ariete; um tronco de árvore suspenso em uma estrutura que é levada até o muro ou os portões da fortaleza, que balançada pela força de vários homens gerava um golpe maciço, concentrado em um único ponto, com a intenção de abrir uma brecha. O problema do ariete é que ficava do lado o muro, portanto os defensores jogavam banha quente, rochas e oleo acesso nos invasores. O ariete possuía um teto coberto geralmente com couro, para proteger seus operários, mas dependia muito do apoio externo (arqueiros e catapultas) para chegar perto e concluir seu trabalho.


Flecha-Foguete

No fim, vai uma arma que nunca existiu, mas que poderia ter definido o rumo das batalhas medievais: A Flecha-foguete.

Die, n00b!!! LOL!!



DIY

Ainda vou fazer um trebuchet em escala; quando fizer isso vou postar fotos e vídeos do troço em ação. Enquanto isso, quem quiser se adiantar, pode consultar estes sites:

http://www.redstoneprojects.com/trebuchetstore/treb_plans_1_1.html

http://www.knightforhire.com/catapult.htm

http://www.trebuchet.com

Para quem quer fazer da construção de trebuchets uma profissão de respeito, vão os links com as ferramentas:

http://www.algobeautytreb.com/

Vai que algum dia você precisa sitiar um castelo? Se for essa a situação, não saia de casa sem ter lido este howto da Universidade de Queens:

http://educ.queensu.ca/~fmc/march2005/siege.html

E quem quer apenas brincar, vai um jogo online muito legal para entender as forças que afetam uma catapulta.

http://www.forgefx.com/casestudies/prenticehall/ph/catapult/catapult.htm


Até a semana que vem, e boa diversão!!!

Feedback

O Post que não é Post. Ou é?

Então, fim de semana, feriadão, alguns viajando, outros apenas acordando tarde, outros ganhando umas extras no trampo... e eu em clima de feriado também, desta vez até terça.

Entre meus planos, está estudar um pouco mais a fundo para os próximos posts. Sim, este blog requer de estudo, coisa que levo muito a sério. Felizmente, o resultado está aí, mais de 1000 visitas, os contadores crescendo, as visitas aumentando, e os comentários de gente amiga gostando, e encorajando a continuar. É por eles, mas também por minha dedicação e os resultado que vejo ao ler novamente post antigos, que digo para mim mesmo que a recompensa é muito maior do que o esforço.

Aos poucos, este blog levado bem a sério está virando o que visionei para ele: uma referência de consulta prática sobre estudos da lenda arturiana, e trazendo também informações sobre a vida no periodo medieval que podem ajudar a entender o contexto.

O último post falou sobre cavaleiros, como eram treinados, suas afiliações em ordens regidas por preceitos nobres, e o surgimento do amor cortés com eles como protagonistas. A palavra "cavaleiro" ganhou um novo sentido graças a estes costumes, do mesmo jeito que os "gentis" eram apenas estrangeiros. Como Pedrita falou, a origem das palavras é muito interessante.

A curiosidade da Renata passou para Marion, sobre como as plebéias eram tratadas pelos cavaleiros. Moças, os cavaleiros tinham uma orientação religiosa, eles sem dúvida matavam, mas respeitavam todas as pessoas tementes a Deus, especialmente os plebéus. Muitas ordens de cavaleiros praticavam o celibato... e por isso o estupro não tinha lugar, pelo menos entre suas fileiras.

Era comum que os cavaleiros fossem filhos de nobres, porém os plebéus que se destacassem por um ato nobre ou coragem excepcional em uma batalha, eram convidados para integrar as ordens de cavaleiros, portanto não havia preconceito de classes.

E sim, muitos cavaleiros se apaixonavam por plebéias, às que juravam defendé-las de todo perigo, e disputavam justas para honrar seu nome. Era o amor cortés, do jeito que as novelas contam.

Me apegando ao filme de maior sucesso por estas pampas nos dias de hoje, os cavaleiros não eram outra coisa que a elite de um exercito. Eram eles que entravam onde a infantaria não chegava. Eram eles que representavam a lei e a ordem de seus governantes. Eram eles, que nos seus grandes corcéis, amedrontavam os criminosos e ganhavam admiração dos homens, nobres e plebéus. O primeiro conto de T.H. White, "A Espada na Pedra", mostra um jovem Arthur que no bosque dá de cara com um cavaleiro, e cheio de admiração pela imagem de um homem brilhando na sua armadura polida que olha para ele do alto da sua montura, decide um dia se tornar cavaleiro. A vida o levou por outro rumo, no momento que tirou a espada da pedra e com isso selou seu destino como rei da Bretanha. Essa imagem e o impacto dela deve ter sido exatamete a mesma para todas as crianças que viam pela primeira vez um cavaleiro, e esse brilho se mantém até hoje, nos tantos espetáculos medievais, como o Medieval Times, as justas de Kaltenberg ou o Camelot Park.

Tudo isso veio dos comentários de vocês. Aliás: Andrea, não me esqueci de você.

Muita gente cai neste blog por buscadores. Eu não vou trapacear colocando termos para atrair pessoas; quero que quem caia no meu blog encontre exatamente o que procura. O que quer dizer trapacear? Por exemplo, se quando falar da Vivian, a Dama do Lago, começo com o título "Nua e molhada". Obviamente, sei que tipo de visita posso esperar depois disso.

Então, não me surpreende que quase todo mundo que aparece nas estatísticas do blog chegam por buscas bem específicas. Foram 243 visitantes em Outubro, dos quais 117 vieram por buscas na net, 115 usando o Google, e os outros dois desavisados via yahoo.

Vejam abaixo algumas das coisas que as pessoas procuraram:

O que me deixa feliz, é que encontraram o que buscavam.

E vocês, encontraram o que buscavam aqui? Pergunta do autor: De tudo o que escrevi até agora, qual foi para vocês o melhor post? Eu já tenho meus três favoritos, espero pelos seus! Bom fim de semana!

Meu Reino por um Cavalo!

A frase do título deste post é de autoria de Shakespeare, quando escreveu sobre a batalha de Bosworth (1485), batalha esta que decidiria que seria o governante da Inglaterra. O rei Ricardo III perdeu este confronto para o conde de Richmond, onde se diz que na pressa por ter um cavalo para ir à luta e a falta de metal confabularam para que seu corcel não estivesse pronto, faltando pregos em uma das ferraduras. Assim, por um prego, se perdeu a ferradura. Por uma ferradura, se perdeu um cavalo. Por um cavalo, se perdeu uma batalha. Por uma batalha se perdeu um reino, e mudou a história. Por um prego.
Por isso que sempre tenho uma caixinha de pregos em casa, nunca se sabe.

De cavalos, corcéis, palafréns...

Um dos fatores interessantes do período medieval, feudal, idade média ou dark ages como também é conhecido, é o relacionamento estreito entre o homem e o cavalo. Não no sentido afetuoso, como é considerado hoje para animais domésticos e de estimação, mas como ferramentas decisivas no trabalho, no transporte e na guerra.
Os cavalos foram usados muito antes para guerra por os mais variados povos, dos árabes aos próprios romanos, que formaram as cidades que posteriormente ficariam conhecidas no período medieval. Mas foi neste último período que a cavalaria deixou de ser apenas uma extensão avançada do exército, e se configurou também como um valor social em tempos de paz; surgia a ordem da cavalaria.

No começo, as diferentes ordens da cavalaria seguiam um regime militar, com orientação religiosa semelhante às dos monges, com a missão de expandir território e avançar sobre os "infiéis". Por volta do século 13, os cavaleiros vinham das famílias nobres, eram detentores de cavalos e armaduras, e ingressavam nas diferentes ordens através de cerimônias religiosas. Estes cavaleiros se regiam por um código de conduta de honra, serviço e entre outras coisas, não fazer nada que possa desagradar a uma dama ou donzela. Surge assim o tal do amor cortês.

Cerimônias aparte, os cavaleiros não passavam a vida combatendo como se imagina, eles passavam longos anos em treinamento, servindo aos seus mestres e se especializando nas suas habilidades com as diferentes armas. Com o tempo, surgiram as justas, onde os cavaleiros podiam demonstrar seus talentos e conquistar honra e por que não, o amor de uma donzela para a qual defendeu suas cores, usando no braço um lenço oferecido por ela.

Fazendo um Cavaleiro

Os cavaleiros pertenciam à classe nobre e eram parte de uma organização militar, mas não todos os soldados podiam virar cavaleiros. Eram rejeitados aqueles que não tinham o equipamento, a riqueza ou o status para participar da ordem, mas mesmo assim pessoas de classes mais pobres que demonstrassem valor, coragem e aptidão poderiam ganhar a classificação para entrar na ordem. Embora eram muito incomuns, existiram também ordens femininas formadas por amazonas.
O treino começava muito cedo, quando crianças filhos de nobres eram deixados como pagens nos estábulos, aprendendo como cuidar dos cavalos, arqueria e uso de armas. Por volta dos 10 anos já podiam ser designados para acompanhar um cavaleiro na função de escudeiro, mas isso geralmente acontecia aos 14. Eles cuidavam das armas e os cavalos de um cavaleiro, enquanto aprendiam como lutar e se comportar em um grupo organizado de cavaleiros. Também escutavam as histórias de Arthur, Perceval, Lancelot e tantos outros cavaleiros épicos, com a intenção de educar sobre os valores para ingressar à ordem.
Aos 21 anos, eles eram nomeados cavaleiros. Antigamente a tradição apenas era um tapinha no pescoço, seguido de uma curta palestra sobre se conduzir com honra, coragem, talento, e lealdade. Foi depois do século 11 que veio toda a cerimônia religiosa patrocinada pela igreja, onde garantiam um lugar no ceú para quem voltasse das cruzadas com honra. Com o tempo, esta cerimônia ficou cada vez mais elaborada, incluindo uma noite de vigilia na igreja vestindo roupas simples, mostrando humildade perante Deus. A espada era benzida pelo padre, que quando oferecida devia ser beijada no punho, que geralmente tinha referências religiosas.

Torcida Organizada

Houve uma infinidade de Ordens de Cavaleiros, cada uma estabelecida com uma ideologia. Teve as que enfatizavam mais sobre humildade, piedade, e outras que pregavam determinados valores de honra. Os nomes eram bem originais, como "Os Escudos Dourados", "Os Cavaleiros Angelicais", "O Falcão Branco", e por aí vai. Meu destaque vai para a "Ordem dos Cavaleiros Escravos da Virtuosidade e o Amor Fraterno". Como comentei acima, teve ordens de amazonas, mas infelizmente não localizei referências aos nomes; como fato histórico, uma delas defendeu Tortosa na Espanha da invasão moura em 1149.

Entre as mais conhecidas Ordens, entram a dos Hospitaleiros, os Templários e os Teutônicos.

Hospitaleiros, ou Cavaleiros de São João de Jerusalém, foi a primeira ordem de monges. Eles vestiam batina preta com cruzes em branco, moravam em um mosteiro que podia receber até 2000 convidados, e ainda com espaço para cuidar dos feridos e doentes. Hospitalidade era a premissa desta Ordem, e criaram várias organizações dedicadas a este fim em diversos países da Europa.
Os templários surgiram no século 12, com o fim de proteger os peregrinos. Adotaram as regras dos monges beneditinos, e suas vestimentas eram brancas com cruzes vermelhas. Eles se propagaram muito pela Europa, e no século 14 correu o rumor de corrupção e heresia entre seus membros, o que levou o rei Felipe da França a perseguir os participantes da Ordem, prendé-los em prisão e torturá-los para obter confissões, onde finalmente eram condenados à morte.
Os Cavaleiros Teutônicos compunham a terceira e última grande Ordem de cavaleiros. De origem germânica, tomavam os votos de pobreza, castidade e obediência, e vestiam branco com cruzes pretas. Participaram de várias guerras, conquistando território principalmente na Prússia, e foi também durante a guerra que esta ordem foi virtualmente aniquilada pelos Poloneses e Lituanos durante a batalha de Tannenberg, em 1410.

Heráldica (ou "meu escudo é beeeeeeem melhor que o seu...")

Os escudos de armas, as cores e combinações designavam a casa ou Ordem dos cavaleiros. Em uma época onde poucos conseguiam ler ou escrever, a heráldica (arte do desenho dos escudos, associada à linhagem ou árvore genealógica) distinguia os membros nobres da sociedade.
Inicialmente somente reis e membros altos da nobreza podiam portar um escudo de armas, mas com o tempo isto foi estendido aos cavaleiros.
Dentro da família, o filho mais velho herdava o escudo de armas da família, onde os filhos mais novos podiam efetuar pequenas alterações para suas próprias famílias. Ainda assim, existiam regras muito estritas para a divisão de um escudo na sua arte. Inicialmente, as famílias partiam de cores fixas, que podiam alterar-se ou misturar-se quando uma cidade jurava lealdade a um reino ou governante. Muitos escudos eram enfeitados com animais reais ou mitológicos, e o toque final dado por algumas famílias era um texto, considerado o "grito de guerra".

Obrigado pela leitura, até a semana que vem!

O Cavaleiro Sem Nome

Leitura Dinâmica

O Cavaleiro sem Nome é o primeiro livro dentro da saga chamada Graal, escrita por Christian de Montella. Encontrei pouquíssima por não dizer nenhuma informação na internet sobre o autor deste livro; nada diferente do que diz no próprio livro sobre o autor, que nasceu em 1957 e fez de tudo como profissão antes de escrever.

Este foi o livro que li em menos tempo sobre lendas arturianas, depois do caderninho chamado "Os Cavaleiros da Távola Redonda", resuminho da Ediouro dos contos de Thomas Malory, que nem pode ser chamado de livro pelo curto que é.

O livro tem um formato pequeno, pouco maior do que um pocket book, e traz um pequeno mapa no começo (que basta olhar no começo), a historia dividida em muitos capítulos curtos (de umas 10 a 15 páginas cada um) e após um total de 320 páginas, uma referência ao vocabulário.

Nos tempos do filme do "Código Da Vinci", tinha uma corrida maluca no meu trabalho para ler o livro. Todo mundo se convenceu de ler o livro antes de vir o filme, e eu decidi fazer isso após um colega me dizer que leu em um par de dias, que o texto era muito rápido, por assim dizer. Eu li o código Da Vinci em três dias, diretamente no computador. De fato, é um livro rápido de ler.

Quando "O Cavaleiro sem Nome" caiu nas minhas mãos, folhei o livro rapidamente e percebi que seria a mesma coisa por causa do formato; muitos capítulos curtos, ação rápida, livro pequeno e letra grande, com bordas generosas em cada página (porque tem livros que aproveitam até o último milímetro do papel, hehe). Assim, na semana passada, decidi falar do livro sem ter lido nada dele ainda, e me obriguei a ler o livro em 4 dias, coisa que fiz sem stress. Foram aproximadamente 80 páginas por dia, lidas em menos de uma hora cada dia.

Mais do mesmo?

Sem querer estragar a surpresa de ninguém nem bancar uma de "spoiler", história do cavaleiro sem nome já foi contada neste blog com seu nome original, "O Cavaleiro da Charrete". Christian de Montella fez um apanhado de diversas lendas arturianas, e as misturou para compor seu livro.
O fio base da história já é conhecido por vocês; um cavaleiro cujo nome não é revelado procura a rainha Guinevere, por quem está loucamente apaixonado, e faz as maiores proezas em nome desse amor, acompanhado por Gawain. Este cavaleiro salva a rainha do sua prisão por Meleagant, passando pela ponte da espada e desafiando-o a uma justa. Este amor não é correspondido pela rainha por causa da humilhação na charrete no conto original, e por causa de um feitiço neste livro, mas não foge muito desse fio.

Traduzindo do meu jeito

Uma coisa que me deixou bastante intrigado do livro foi o jeito em que os nomes dos personagens foram alterados. Em praticamente todos os casos, os personagens ganharam sutis diferenças nos nomes, acrescentando uma letra ou substituindo outra, mas sem muita dificuldade para descobrir o nome original. Por exemplo, temos Garvain, Meleagrant, Baudemagus, e por aí vai. Não entendi exatamente os motivos para isso, mas é uma curiosidade que não ia deixar de registrar.
Outra coisa bastante comum neste livro (fugindo ao texto de Chretien de Troyes) é usar um nome para uma colocação diferente. Exemplo:

Versão Original, Chretien de Troyes:

Meleagant: Filho do rei Bandemagus, de caráter traiçoeiro e vil, quem leva a rainha e mantém prisioneiros os forasteiros no seu afastado reino.
Bandemagus: Rei das terras distantes, de caráter nobre e cavaleiresco, recebe calorosamente Lancelot após atravessar a ponte da espada.

Versão do Christian de Montella:

Meleagrant: Rei de Gorre, terra distante que mantém prisioneiras as pessoas na sua terra. Cavaleiro expulso da ordem de Arthur por falta às leis da cavalaria.
Baudemagus: Feiticeiro e conselheiro de Meleagrant, dominado por Morgana.


Tempero diferente

Embora já conhecia a história por outras leituras, este livro agrada por misturar várias histórias, e relacioná-las à lenda-base do charrete.
O começo do livro mostra a morte do rei Ban, e a dama do lago (Vivian) levando seu pequeno filho para as terras do lago, onde é criado como o Eleito, que poderá concluir "A Busca". Merlin, filho do diabo, foi conselheiro de Uther-Pendragon, mas foi afastado dele por Vivian quando Arthur ainda era pequeno, e hoje é prisioneiro de Vivian.
Arthur nasceu do amor proibido entre Uther e Igraine; a filha legítima de Igraine tomou rancor de Uther, e mais ainda de Arthur, seu meio-irmão. Com ele teve um filho na cerimônia sagrada do Gamo (como conta As Brumas de Avalon), filho este que seria a ruina de Arthur; o nome da criança era Mordred, e foi criado por Morgana para ser o Eleito na "Busca".
Lancelot participa neste livro da lenda do rei pescador, história muitas vezes contada como a lenda de Perceval. Outras adição curiosa no livro são os nomes de Erec e Enide, que na lenda original são um romántico casal, e aqui são dois cavaleiros da távola redonda. Por falar em távola redonda, este livro coloca como origem da mesma o próprio graal, muito antes de Uther, Igraine e do próprio Merlin.
Os motivos para Guinevere se aborrecer na vitória de Lancelot sobre Meleagant também são outros, menos cavalheirescos e mais femininos: o ciúme. Lancelot dormiu com outra convencido que se entregava a Guinevere em sonhos, mas o que chegou aos olhos da rainha foi o que aconteceu de fato, e mesmo sem ter nunca falado nada de amor com Lancelot, sentiu ciúmes e o aborreceu.
O livro é cheio de fatos mágicos, encantamentos e ilusões, coisas que não aparecem tanto nos textos de Chretien, mas que dão um gostinho novo às histórias conhecidas.

A história sem final

Chretien de Troyes não colocou em versos o final da história, mas passou isso para outra pessoa como contei para vocês faz um tempinho. Isto parece estar fardado ao conto da charrete.
O livro não tem final, pelo menos não um final conclusivo. Como o autor escreveu outros 3 livros na saga graal, isto não me espanta tanto, mas esperava um desfecho menos "Lost", por assim dizer. Ficaram coisas demais em aberto para meu gosto, por ser o primeiro livro. Acredito que o primeiro livro de qualquer saga tem que dar uma noção de para onde a história vai apontar, mas tem que fechar e concluir o que se propôs contar para dar ao leitor a sensação de tarefa cumprida.
Por colocar um autor completamente diferente neste aspecto, Bernard Cornwell escreveu duas trilogias sensacionais, onde cada livro tem um desfecho completo, e somente menciona o que poderá vir, como uma viagem para procurar uma pessoa, a volta ao lar ou o surgimento de um novo inimigo. Na saga de livros do soldado Richard Sharpe, cada livro é separado, mas conta as aventuras do mesmo personagem, e a evolução dele desde soldado raso até cargos mais importantes com uma linearidade admirável, mesmo com os livros dando desfecho a cada história. Ainda estou juntado coragem para falar da trilogia do Rei Arthur, porque são três livros enormes, e não sei nem por onde começar sem ficar chato :-)

O cavaleiro sem nome é um bom livro para leitura rápida, e provavelmente compre os outros para comparar o texto de Montella com o que já conheço. Se assim acontecer, haverá novos posts para contar a experiência.

Bom feriado aos brasileiros e bom fim de semana para o resto! Até a semana que vem!

1K Day

Obrigado a todos os que ajudaram com suas visitas em fazer este blog atingir 1000 hits hoje. Quem diria, hein? Não é exatamente um blog fofoqueiro para chegar nesses números, e ainda os posts são semanais, com o que não tem um fluxo exagerado no meio da semana. É o interesse e amizade de vocês que me faz procurar, estudar e escrever da maneira mais completa e detalhada e amena os fatos que circundam as lendas arturianas. Sejam eternamente bem-vindos!

Gracias de corazón!

Discurso Corporativo

Na hora do cafezinho...


-Vai demorar muito na reunião?
-Não, são só 40 slides no Powerpoint.

Estava aqui eu, sem assunto para o blog (na verdade, nem era falta de assunto, era mais falta de estudo sobre o que queria falar), e decidi dar uma olhada no google para ver que links achava no Brasil sobre o Rei Arthur. Não mudou muita coisa desde que comecei a postar, ainda posso me considerar o texto mais completo e detalhado sobre lendas arturianas. Em alguns casos, existem até textos interessantes, mas sempre apontando a espiritismo, druidismo e outros "ismos".

Não é com a intenção de fazer propaganda nem nada, mas caí no site de uma empresa de palestras corporativas, daquelas que borrifam todo o jargão corporativo como:


  • Procurando novos desafios
  • Metas estratégicas
  • Valor agregado
  • Excelência operacional
  • Paradigmas, targets, score-cards based, key holders...

Sempre achei uma sofisticação desnecessária, afinal enrolar o discurso geralmente aponta mais falta de conteúdo do que talento na eloqüência. Não há palavras novas, apenas definições rebuscadas. Eu passo mais tempo lendo as entrelinhas desses discursos do que prestando atenção, mas tem gente que acha bonito.


Então, esta empresa organiza atividades para grupos, como corridas de carrinhos, balonismo, paintball (?!?!), e entre tantas coisas, eles criaram um evento sobre o Rei Arthur. Quando vi o vídeo não sabia se rir ou lamentar pelo chute no fígado. Os atores até que fazem um trabalho legal, mas me imagino rindo da cara de todo mundo ao ouvir coisas tão descaracterizadas como por exemplo:


(Merlin)- Não seja assim Mordred! As lideranças do século 21 brilharão pelos seus principios, não pelo carisma.


(Lancelot)- Porque um verdadeiro lider sustenta uma parede (O QUEEE????)


(Cavaleiro X)- Concordo, nós não temos uma boa liderança, nossa parede sempre está caindo (MAS ELE QUER UM REI OU UM PEDREIRO????)



Parei de ver o vídeo no meio, digamos que foi quando meu espanto diminuiu. Eu já fiz dois posts comentando sobre a popularidade da lenda arturiana, mas isso já é um abuso! Queriam brincar de cavaleiros, tá ótimo, mas precisavam pegar o Arthur para isso?
O Rei Arthur é um dos maiores símbolos de liderança, o que explica o motivo da escolha. Um rei admirado, querido pelo seu povo e seus cavaleiros, e respeitado pelo seu carisma. Mesmo assim, foi ferido de morte por um dos seus próximos, traído pela mulher e o império dele ruiu com sua morte. Belo exemplo corporativo, né? Tenho certeza que todo lider empresarial espera um final desses...



Semana que vem: O Cavaleiro sem Nome

Dark Age of Camelot

Nota 1: Estou com uns rolos pessoais que me deixaram desanimado, e por isso o post deste fim de semana vai ser curto. Mesmo assim, espero que curtam ele tanto quanto eu em fazé-lo.

Nota 2: Mudei o vídeo (21/10/07 20:17), simplesmente arrumei umas coisinhas nas legendas e acrescentei uma subliminal no fim, hehe... Além disso, botei alguns links que esqueci. Definitivamente não estou com a cabeça no meu normal.

As Aventuras de Wallaceth

Pegando carona nas telinhas do Diablo II do post anterior, venho contar que andei jogando o Dark Age of Camelot, um jogo online que pega os tempos obscuros que viriam após a morte do Rei Arthur. Avalon cai sob o dominio de invasores, a lenda se mistura com as lendas celtas e nórdicas, e Albion (o país onde fica Camelot) ganha novos aliados e inimigos.

O nome acima é o nome do meu personagem, um Inconnu atualmente no nível 20 e pouco, e que deve chegar em algum momento ao nível 50 (o maior dentro do jogo). Ainda estou conhecendo o mapa, os poderes e os comandos do teclado, mas estou pegando a manha do jogo.
Conheci uma turma boa de jogar, um clã conhecido como Master Raiders. Eles me convidaram para jogar junto, e graças a eles conheci um monte de cenários que ainda não poderia conhecer por causa de meu nível. Digamos que quase me levaram de mãos dadas.
A graça de jogar em turma é a coordenação de um grupo: há atacantes, defensores, pessoas que se encarregam de sarar as outras, pessoas que ordenam o grupo... é bem curioso, e ao mesmo tempo tem o gostinho de estar jogando com pessoas, o que torna tudo mais interessante.

O que tem isso tudo a ver com o rei Arthur? Vejam o vídeo.







Tive um esforço razoável para fazer as legendas; agora entendo pelo que passam as pessoas que fazem legendas de seriado. Posso dizer que finalmente escrevi uma, mesmo que para um vídeo curtinho.


Até a semana que vem!

Como não fazer um filme arturiano

A Última Legião. Ainda bem que foi a última.


Marion já falou deste filme que vimos na semana passada, mas agora é minha vez, seguindo a deixa dela sobre imprecisões históricas e tal.
Falta de roteiro, falhas na atuação, escalação ruim de atores, nítida pobreza de cenários, coreografias e vestiários fazem de "A Última Legião" um filme lamentável. Paguei para ver, afinal é um filme arturiano, mas não passa de uma sessão da tarde. Pena, porque o trailer era realmente inspirador.

A intenção do filme é mostrar de onde veio a espada Excalibur, e mostrar que ela é anterior à lenda do rei Arthur. Mesmo quando o principal elemento do filme seja a espada, é visível a falta de esforço para levantar e movimentar todas as armas do filme; simplesmente são leves demais, e isso prejudica a credibilidade. É ridículo ver uma espada que tem praticamente o tamanho de um claymore irlandês ser levantado como nada por uma criança franzina.

Este filme pega o mesmo momento histórico de outro filme, "King Arthur". A diferença é que no primeiro temos um nítido líder carismático, que repele a invasão saxônica na batalha de monte Baddon. Já em "The Last Legion", temos um líder desinteressado, interpretado pelo namorado da Bridget Jones, e onde parece que todos os atores sabem desse seu passado nebuloso. Ao mesmo tempo, ele tem que aturar um pirralho que se acha superior a todo mundo, e que não é capaz de se defender nem de inspirar ao menos um sentimento de carinho para protegê-lo com motivo. Dá vontade de que ele caia nas mãos do inimigo, os Cotos (que tem a função de interpretar os bárbaros da vez).


Roma. A Cidade Mutante.

A capital do Império Romano atingiu uma população de mais de 1 milhão de habitantes, isso no século V. Pode não parecer muito, mas a próxima cidade em atingir esses números no mundo só conseguiu este fato no século XVIII. Era uma cidade suja, fedida, grande (que coincidência... parece onde moro hoje). Eles inovaram o comércio por terra com suas estradas, que tinham o detalhe de colocar pedras enormes aos lados do caminho para evitar que as carroças ficassem com uma roda pra fora, lamaceando a estrada inteira. Digamos que inventaram a lombada no acostamento.

Os erros que me incomodaram sobre Roma (especialmente considerando que Italia está entre os paises da produção) são basicamente estes:

A moradia do César era o lugar mais privilegiado da cidade. Ele ficava próximo ao Senado, onde longos debates aconteciam na presididas do governador supremo. No filme, após algumas cenas, você descobre que a casa imperial fica logo após o portão da cidade. Isto é um despropósito em vários aspectos:

- Segurança nula.
- Trânsito constante de mercadorias pelos portões.
- Distância até o Senado e o Coliseu, por não falar dos templos.

Outro erro terrível acontece em características mais particulares da cidade. De fato as casas tinham telhas, mas não eram de barro pré-moldado industrial:

- Cara, maneiras essas telhas da tua casa!
- Gostou? Comprei na internet. Entregaram e instalaram. Depois te passo o site...


Um Épico.

Todo filme que aspira ser um épico precisa de elementos marcantes, particularmente no quesito cenários. Como é de se esperar na falta de orçamento, esta é uma das falhas mais miseráveis do filme.
Começamos pela muralha de Adriano, de isopor pintado. Me lembra as obrinhas da minha infância na escola, com o fundo de papelão.

A falta de cuidado fica patente também no fundo azul cretino nos aquedutos romanos. Belíssimo render, pena que tão mal superposto à imagem filmada.

Sabe a sensação de já ter visto determinada cena? Isso se repete, isso se repete, isso se repete. Se repete. A Warner Brothers fez muito desenho animado assim, mas em filme fica estranho. Especialmente quando as cenas são de outro filme.

Lord of The Rings? Não. Aliás, para atravessar os Alpes ninguém precisa de bagagem. Dá para passar a pé na boa.

- Moleque, presta atenção. Essas são as montanhas do SSX3.
- Poxa, é mesmo!
- Legal né?


Inspiração.

Roube (quer dizer, inspire-se nos) cenários de jogos épicos, como Diablo II. Aproveite que é um jogo velho, jogado apenas por milhões de pessoas no mundo todo e com uma das comunidades mais ativas, tanto no site do autor do jogo (Blizzard) quanto em comunidades como o Orkut. Ninguém vai reparar no plágio.


Para quê parar com os cenários, se você pode também plagiar os personagens e suas fantasias??? Olha só essa amostra 3-em-1:

Temos 3 personagens. O guerreiro namorado da Bridget, um Merlin/Obi Wan/Pai-de-Santo, e uma mulher guerreira. O que temos no jogo? Exatamente os mesmos personagens.

Eu não podia deixar de mencionar o mantra repetido até o cansaço, "até o último suspiro" traduzido porcamente. Nada como uma singela homenagem ao "nós andamos" do 300 de Esparta.

Aliás, já copiado o cenário e as fantasias, por quê não as armas?? Imagina se ia deixar isso de fora... Olha só o Katar selecionado em verde, e o que nossa "assassin" está usando no filme:



É pura coincidência que tanto no jogo como no filme sejam duas personagens mulheres, com conhecimento de artes marciais, usem katars e armas a-la-Wolverine, e ambas sejam definidas como assassinas ou mercenárias? Eu não acho.

Resumindo...

A cara do Merlin no começo do post reflete bem a sensação do público.

"Hein?"

Ainda assim, o filme joga no fim apenas uma pontinha do que poderia ter sido, mostrando um jovem Arthur, acompanhado por Merlin como mentor, e com uma cumplicidade carinhosa entre eles. Essa curta cena que parece um extra do filme, logo no fim, mostra como esta outra criança consegue ser tão mais simpática, fazendo o público gostar dele quase de imediato.

Me resta esperar por um bom filme arturiano como foi Excalibur de 1978 ou as Brumas de Avalon (minissérie para TV), ou vou ter que virar diretor de cinema e fazer meu próprio filme. Seria muito legal que alguém pegue os textos do Cornwell, também mostrando um Arthur meio-romano no século V, e faça um filme à altura que as épicas histórias arturianas merecem.
Produtores: Parem de nos enrolar e façam logo um bom filme!!!

Eta feriado bom... O post só saiu hoje!!!