O Cavaleiro Sem Nome

Leitura Dinâmica

O Cavaleiro sem Nome é o primeiro livro dentro da saga chamada Graal, escrita por Christian de Montella. Encontrei pouquíssima por não dizer nenhuma informação na internet sobre o autor deste livro; nada diferente do que diz no próprio livro sobre o autor, que nasceu em 1957 e fez de tudo como profissão antes de escrever.

Este foi o livro que li em menos tempo sobre lendas arturianas, depois do caderninho chamado "Os Cavaleiros da Távola Redonda", resuminho da Ediouro dos contos de Thomas Malory, que nem pode ser chamado de livro pelo curto que é.

O livro tem um formato pequeno, pouco maior do que um pocket book, e traz um pequeno mapa no começo (que basta olhar no começo), a historia dividida em muitos capítulos curtos (de umas 10 a 15 páginas cada um) e após um total de 320 páginas, uma referência ao vocabulário.

Nos tempos do filme do "Código Da Vinci", tinha uma corrida maluca no meu trabalho para ler o livro. Todo mundo se convenceu de ler o livro antes de vir o filme, e eu decidi fazer isso após um colega me dizer que leu em um par de dias, que o texto era muito rápido, por assim dizer. Eu li o código Da Vinci em três dias, diretamente no computador. De fato, é um livro rápido de ler.

Quando "O Cavaleiro sem Nome" caiu nas minhas mãos, folhei o livro rapidamente e percebi que seria a mesma coisa por causa do formato; muitos capítulos curtos, ação rápida, livro pequeno e letra grande, com bordas generosas em cada página (porque tem livros que aproveitam até o último milímetro do papel, hehe). Assim, na semana passada, decidi falar do livro sem ter lido nada dele ainda, e me obriguei a ler o livro em 4 dias, coisa que fiz sem stress. Foram aproximadamente 80 páginas por dia, lidas em menos de uma hora cada dia.

Mais do mesmo?

Sem querer estragar a surpresa de ninguém nem bancar uma de "spoiler", história do cavaleiro sem nome já foi contada neste blog com seu nome original, "O Cavaleiro da Charrete". Christian de Montella fez um apanhado de diversas lendas arturianas, e as misturou para compor seu livro.
O fio base da história já é conhecido por vocês; um cavaleiro cujo nome não é revelado procura a rainha Guinevere, por quem está loucamente apaixonado, e faz as maiores proezas em nome desse amor, acompanhado por Gawain. Este cavaleiro salva a rainha do sua prisão por Meleagant, passando pela ponte da espada e desafiando-o a uma justa. Este amor não é correspondido pela rainha por causa da humilhação na charrete no conto original, e por causa de um feitiço neste livro, mas não foge muito desse fio.

Traduzindo do meu jeito

Uma coisa que me deixou bastante intrigado do livro foi o jeito em que os nomes dos personagens foram alterados. Em praticamente todos os casos, os personagens ganharam sutis diferenças nos nomes, acrescentando uma letra ou substituindo outra, mas sem muita dificuldade para descobrir o nome original. Por exemplo, temos Garvain, Meleagrant, Baudemagus, e por aí vai. Não entendi exatamente os motivos para isso, mas é uma curiosidade que não ia deixar de registrar.
Outra coisa bastante comum neste livro (fugindo ao texto de Chretien de Troyes) é usar um nome para uma colocação diferente. Exemplo:

Versão Original, Chretien de Troyes:

Meleagant: Filho do rei Bandemagus, de caráter traiçoeiro e vil, quem leva a rainha e mantém prisioneiros os forasteiros no seu afastado reino.
Bandemagus: Rei das terras distantes, de caráter nobre e cavaleiresco, recebe calorosamente Lancelot após atravessar a ponte da espada.

Versão do Christian de Montella:

Meleagrant: Rei de Gorre, terra distante que mantém prisioneiras as pessoas na sua terra. Cavaleiro expulso da ordem de Arthur por falta às leis da cavalaria.
Baudemagus: Feiticeiro e conselheiro de Meleagrant, dominado por Morgana.


Tempero diferente

Embora já conhecia a história por outras leituras, este livro agrada por misturar várias histórias, e relacioná-las à lenda-base do charrete.
O começo do livro mostra a morte do rei Ban, e a dama do lago (Vivian) levando seu pequeno filho para as terras do lago, onde é criado como o Eleito, que poderá concluir "A Busca". Merlin, filho do diabo, foi conselheiro de Uther-Pendragon, mas foi afastado dele por Vivian quando Arthur ainda era pequeno, e hoje é prisioneiro de Vivian.
Arthur nasceu do amor proibido entre Uther e Igraine; a filha legítima de Igraine tomou rancor de Uther, e mais ainda de Arthur, seu meio-irmão. Com ele teve um filho na cerimônia sagrada do Gamo (como conta As Brumas de Avalon), filho este que seria a ruina de Arthur; o nome da criança era Mordred, e foi criado por Morgana para ser o Eleito na "Busca".
Lancelot participa neste livro da lenda do rei pescador, história muitas vezes contada como a lenda de Perceval. Outras adição curiosa no livro são os nomes de Erec e Enide, que na lenda original são um romántico casal, e aqui são dois cavaleiros da távola redonda. Por falar em távola redonda, este livro coloca como origem da mesma o próprio graal, muito antes de Uther, Igraine e do próprio Merlin.
Os motivos para Guinevere se aborrecer na vitória de Lancelot sobre Meleagant também são outros, menos cavalheirescos e mais femininos: o ciúme. Lancelot dormiu com outra convencido que se entregava a Guinevere em sonhos, mas o que chegou aos olhos da rainha foi o que aconteceu de fato, e mesmo sem ter nunca falado nada de amor com Lancelot, sentiu ciúmes e o aborreceu.
O livro é cheio de fatos mágicos, encantamentos e ilusões, coisas que não aparecem tanto nos textos de Chretien, mas que dão um gostinho novo às histórias conhecidas.

A história sem final

Chretien de Troyes não colocou em versos o final da história, mas passou isso para outra pessoa como contei para vocês faz um tempinho. Isto parece estar fardado ao conto da charrete.
O livro não tem final, pelo menos não um final conclusivo. Como o autor escreveu outros 3 livros na saga graal, isto não me espanta tanto, mas esperava um desfecho menos "Lost", por assim dizer. Ficaram coisas demais em aberto para meu gosto, por ser o primeiro livro. Acredito que o primeiro livro de qualquer saga tem que dar uma noção de para onde a história vai apontar, mas tem que fechar e concluir o que se propôs contar para dar ao leitor a sensação de tarefa cumprida.
Por colocar um autor completamente diferente neste aspecto, Bernard Cornwell escreveu duas trilogias sensacionais, onde cada livro tem um desfecho completo, e somente menciona o que poderá vir, como uma viagem para procurar uma pessoa, a volta ao lar ou o surgimento de um novo inimigo. Na saga de livros do soldado Richard Sharpe, cada livro é separado, mas conta as aventuras do mesmo personagem, e a evolução dele desde soldado raso até cargos mais importantes com uma linearidade admirável, mesmo com os livros dando desfecho a cada história. Ainda estou juntado coragem para falar da trilogia do Rei Arthur, porque são três livros enormes, e não sei nem por onde começar sem ficar chato :-)

O cavaleiro sem nome é um bom livro para leitura rápida, e provavelmente compre os outros para comparar o texto de Montella com o que já conheço. Se assim acontecer, haverá novos posts para contar a experiência.

Bom feriado aos brasileiros e bom fim de semana para o resto! Até a semana que vem!

6 comentários:

Marion disse...

Amor, acho que vou ler este livro.

É interessante ver como a lenda do Rei Arthur consegue ter tantas variantes e mesmo assim não perder o seu glamour e encanto.

Ah, eu adoro a Dama do Lago! Mostra como o amor é mais forte do que tudo, que até o Merlin, grande mago, ficou tão desarmado diante do amor que acabou ficando prisioneiro da Vivian!
Tudo bem que manter o amado preso não é o melhor jeito de viver um amor, mas cada um vivencia o amor do jeito que acha mais adequado ...ehehe

Beijos

Anônimo disse...

eu li as brumas de avalon e gostei muito, mas faz muitos anos e achei o texto muito bom. beijos, pedrita

Anônimo disse...

Sabe que me deu até um certo alívio em entrar aqui e ver uma recomendação de um livro novo sobre o Rei Arthur? Com tanta coisa deturpada por aí, é bom ver um livro recomendado por quem entende do assunto.
Minha lista de livros anda grande, mas eu vou dar uma fuçada nesse aí e quem sabe ele entra pra fila também!
Beijos!

Andrea disse...

Louquica para ler!

Anônimo disse...

Wally, seria bem interessante ver o que você criaria se participasse do NanoWrimo! Na verdade o "desafio" não tem regra nenhuma de língua, data de início, tema... só as 50 mil palavras em um mês - e mesmo assim, se você completar sua história com menos palavras ou mais tempo, pode-se considerar um vencedor, já que a satisfação pessoal é o que conta. Na verdade o grande lance do site (que está escrito lá em algum lugar) é que ficamos sempre adiando a hora de sentar e escrever, e o site lança o desafio de fazer isso em um mês, com data definida, e aceitando esse desafio você meio que se obriga a fazer e acaba fazendo uma coisa que provavelmente não faria de outra maneira. É por isso que eu gosto, e também é por isso que a maioria das pessoas acha absurdo, afinal ninguém ganha nada material no final... E o site em si serve como um lugar pra mostrar pros outros participantes seu progresso, e nos fóruns dá pra conversar com participantes do mundo inteiro e tirar todo tipo de duvida. Se resolver encarar, mesmo 10 dias "atrasado", me avise =)
Beijos!

Gabriel. disse...

muito triste o final. quase chorei. UHEUAHEUHAE Ótimo livro.